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  • Foto do escritorDavi Junior

RESENHA: Os Cavaleiros do Zodíaco Ômega, o Arco das Ruínas Antigas



Ao se falar de valor, fala-se de algo muito relativo. Tão difícil é saber o quanto de valor um objeto pode carregar em comparação com qualquer tipo de prognóstico praticado, é fazer a avaliação medindo as qualidades e as virtudes de uma pessoa. Em Os Cavaleiros do Zodíaco Ômega, os protagonistas tiveram a chance de compartilhar um mundo novo durante o arco das Ruínas Antigas, e os roteiristas, a chance de valorizar seus personagens.

BRONZE, PRATA E OURO

Uma das características mais marcantes dentro do universo de Saint Seiya é a classificação das armaduras que guerreiros de Atena vestem. No topo da hierarquia, estão os cavaleiros de Ouro, lutadores que dominam a essência do cosmo e seu nível mais elevado. O nível intermediário é formado pelos cavaleiros de prata, com capacidades que variam de líderes de missões, ao treinamento de aspirantes. E no mais baixo nível encontram-se os cavaleiros de bronze, que não por coincidência, são os protagonistas da série clássica e da série Ômega.

Colocando os protagonistas num nível baixo, Masami Kurumada escolheu fazer com que seus personagens trilhassem um caminho que se tornou referência na construção de um mangá shonen moderno: a superação de limites e o amadurecimento físico e psicológico dos personagens, fazendo com que o bronze alcançasse o ouro mesmo ainda sendo bronze.

Em Os Cavaleiros do Zodíaco Ômega, a escolha foi bastante similar para a construção da linha evolutiva da narrativa: Kouga, o atual cavaleiro de Pégaso enfrentou em Palaestra (leia a resenha deste arco aqui) vários cavaleiros de bronze para chegar até o segundo arco da história apto para enfrentar cavaleiros de prata.


Haruto de Lobo se juntou a Kouga no fim do arco de Palaestra.

Se a linha de pensamento parece lógica e plausível, a execução da ideia demorou para ser bem transmitida ao espectador, mas todo o desenvolvimento do arco das Ruínas Antigas foi muito bom para amadurecer o roteiro e passar a fazer o que Kurumada sempre fez tão bem desde o primeiro capítulo do primeiro mangá de Saint Seiya.

SUGANDO TODO O COSMO DA TERRA

Tendo início logo após Seiya de Sagitário salvar Kouga e os outros cavaleiros de bronze de morrerem pelas mãos do vilão Marte quando este invadiu Palaestra, o arco das Ruínas antigas começa quebrando mais paradigmas da série clássica e acrescentando mais novos elementos ao enredo.

Após destruir todo o Santuário da Grécia e erguer a Torre de Babel, Marte passa a se utilizar de cinco ruínas elementais para “sugar” o cosmo da Terra e alimentar sua Torre com todo o poder que ele precisa para concluir seus planos malignos. Para que a vida na Terra não se extinga, é necessário que um cavaleiro do mesmo elemento que a Ruína destrua seu núcleo após vencer os guardiões que Marte, pois em cada uma delas, em sua maioria, cavaleiros de prata traidores de Atena que apoiam a causa do marciano.

Dois novos personagens entram para a equipe de Kouga, Haruto de Lobo, um cavaleiro de bronze que Kouga libertou de Palaestra antes de serem salvos por Seiya, e Ária, a candidata de Marte para se tornar a nova deusa Atena.


Ária tem um inimaginável cosmo de luz em seu interior.

Haruto é um ninja (mas não é loiro, nem veste laranja), o que pode parecer muito estranho num primeiro ponto de vista. Encarnando o personagem frio da história, o passado do cavaleiro é marcado por muitas desgraças envolvendo seu irmão e sua antiga vila ninja (!). Mesmo sendo totalmente fora de contexto, o personagem serve para dar um nova dimensão a Cavaleiros com os laços da sua cultura japonesa, que nunca foi colocada em primeiro plano em Os Cavaleiros do Zodíaco.

Ária não só é dona de um esplêndido cosmo do tipo luz, como alguém completa o time perfeitamente, já que sua personalidade é a oposta da de Yuna, sempre muito calma, serena, bondosa e frágil. Além de ser a personagem um componente essencial para que os cavaleiros de bronze consigam desfazer as ruínas dos elementos, ela ainda é o gancho essencial para o começo e o surpreendente final do arco.

REVELAÇÕES COMO OS CAVALEIROS DO PASSADO

Novos conceitos, novos personagens, novos vilões e novo tudo! Mas o que mais se destaca durante o arco das Ruínas Antigas é o encontro dos protagonistas com os personagens da velha guarda.

Além de revelarem e justificarem o porquê de estarem fora de batalha, pincelar um pouco da Guerra Santa do ano 2.000 contra Marte e revelar que um meteoro trouxe Kouga e Ária do espaço, e de quebra ampliar os poderes do vilão de cabeça quente e alterar a forma das armaduras para jóias, são eles que fazem o papel de amadurecer os jovens cavaleiros em sua jornada rumo ao encontro de Atena.


No arco, um flashback revelou o que transformou as armaduras

e o que impossibilitou Seiya e os outros de usarem seus cosmos.

Shun de Andrômeda, que virou uma espécie de médico de um vilarejo perto da Ruína da Terra, é quem mostra a Ryuhou de Dragão a importância de se valorizar e confiar na amizade durante uma batalha.

Jabu de Unicórnio, que aparentemente se aposentou de ser cavaleiro após receber a maldição do golpe de Marte, faz com que o ódio que Souma de Leão Menor sente por Sonia, a filha de Marte, seja controlado.

Shiryu de Dragão, que permanece sem os cinco sentidos nos Picos Antigos de Rozan, é quem motiva a Haruto de Lobo a enfrentar seu passado e tomar as rédeas daquilo que acredita.

E por fim, é Hyoga de Cisne que precisa mostrar a Kouga que de nada adianta se lamentar por ter perdido tudo o que ama, pois é da fé e na esperança de um mundo de paz, que os cavaleiros fazem elevar seu cosmo ao máximo!

Apenas Yuna foi quem ficou a mercê de um exemplo original da série. Sua mestra Pavlin de Pavão foi morta por três cavaleiros de prata numa luta injusta e covarde, fazendo com que a guerreira acredite mais em seus ensinamentos que nas regras do Santuário impostas as mulheres.


Pavlin de Pavão conquistou tantos fãs quanto Yuna de Águia!

Além disso, é com o jeito infantil e curioso de Ária, que Yuna aprende os valores femininos e como uma mulher, mesmo lutando pela justiça, deve manter seu lado frágil para não perder sua sensibilidade com os pequenos, porém belos, detalhes da vida.

As ligações de Yuna e Haruto com Marin de Águia e Nachi de Lobo sequer foram citadas, Ikki de Fênix só apareceu nas lembranças dos outros cavaleiros e mesmo Geki de Urso estar preso na armadilha de Marte, um quinto elemento da turma das antigas aparece para ser sensibilizado por Ária, pois diferente de seus nove companheiros de Guerra Galáctica, Ichi de Hidra Fêmea acabou se rendendo as forças do mal.

Que Ichi nunca foi um personagem lá muito popular todos concordam, mas que os roteiristas pegaram pesado com sua participação, isso o fizeram, pois mesmo ele não teria submetido ao que se submeteu em Ômega, onde teve sua personalidade totalmente reformulada.

Sonhando em se tornar o cavaleiro mais forte (e mais belo, argh!) de Atena, o antigo cavaleiro de bronze de Hidra Fêmea aceita de Marte a armadura de prata de Hidra Macho para vencer os cavaleiros de bronze enquanto estes se dirigiam ao Ruína da Água.


De bronze à prata: Ichi decepcionou uma legião de fãs!

Ao final, o cavaleiro parece se arrepender, mas mesmo que pegando o fã de longa data desprevenido com tal contexto para o personagem é muito contestável até que ponto uma nova série deve alterar a personalidade original do personagem para apresentá-la a uma nova geração de fãs.

TEMPO!

Mesmo passando as 6h30 da manhã de domingo no Japão, Os Cavaleiros do Zodíaco Ômega rendeu uma boa audiência durante a exibição do arco das Ruínas Antigas, tendo seus picos nos episódios com participação de Shun e cia. Isso fez com que a Toei esticasse um pouco o arco, trazendo alguns episódios desnecessários, sendo o principal o episódio em que os seis protagonistas viram empregados em um estabelecimento comercial.

Outro ponto é a trivialidade com que os inimigos aparecem e desaparecem. Muitos cavaleiros de prata em muitos episódios foram criados, mas mal puderam mostrar o que fazem, pois, se no início os primeiros trios de prata que enfrentavam os cavaleiros duraram três ou quatro episódios, muitos dos outros morreram facilmente com um ou outro golpe dos bronzeados, algo que além de estranho, não parece ter sido aplicado no timing correto para o desenvolvimento de poder dos personagens.


Perdendo parte de sua vida, Shun ainda queima

seu cosmo para ajudar Kouga e Ryuhou!

Na série clássica, um dos pontos importantes sempre foi como o vilão marca a história. Não é benéfico para uma história como Cavaleiros, onde os fãs aguardam fervorosamente que uma nova constelação apareça junto com o inimigo para poder conhecê-la acabe tão rápido, devido ao formato de episódio fechado que optou-se por fazer a história, sempre com começo meio e fim no enredo próprio do episódio, deixando um curta linha de raciocínio para o próximo episódio.

Além disso, a Toei pecou por vezes ao acabar ampliando os destinos dos personagens fazendo-os se separar de Ária, que em teoria é quem mais deveriam proteger, tanto por sua fragilidade quanto por sem ela não ser possível desfazer o funcionamento das ruínas.

A coisa chega a tal ponto que Kouga e Yuna ficam sozinhas com Ária, abrindo brecha para Éden de Órion recuperar sua noiva e levá-la de volta até a Torre de Babel, onde está toda a família do cavaleiro de bronze, sua irmã Sonia e seus pais Marte e Medeia.

O relacionamento do garoto com sua família é um dos destaques do arco. Éden sempre admirou a força e a sabedoria de seus pais e sempre cresceu tendo sua irmã Sonia de Vespa, amazona de prata que lidera todos os cavaleiros abaixo da classe de ouro. Porém, enquanto seus laços com Ária e a experiência com Kouga e os outros se intensifica, Éden muitas vezes fica em cheque ao julgar as atitudes de seu pai.


Vespa é uma constelação extinta, por isso devem ter a utilizado

como símbolo da armadura de uma marciana.

Os vários flashbacks que vão contando a personalidade do cavaleiro revelam uma personalidade fraca por trás do título de cavaleiro de bronze mais poderoso. Éden busca uma constante aprovação dos pais, quer ser reconhecido e quer, ao final das contas, formar uma família melhor que a dele, embora o condicionamento sofrido durante sua juventude tenha o formado tão próximo do que é Marte.

FINAL DE TEMPORADA! FINALMENTE CAVALEIROS!

Uma característica marcante nos mangás shonens e principalmente em Os Cavaleiros do Zodíaco é a superação de obstáculos. Mesmo mais fracos que aqueles que enfrentavam, Seiya e os outros sempre tiveram a determinação necessária para aprender a controlar o infinito cosmo que todo ser humano tem para poder, nem que fosse por um milésimo de segundo, superar e vencer o adversário.

Um dos incômodos no arco das Ruínas Antigas foi a falta de superação de personagens. Possivelmente por refletir os acomodados jovens dos anos 10 ao invés dos revolucionários dos anos 80, ou simplesmente por um erro da série, Kouga e os outros venciam, mas não por superar o adversário, mas ou por contar com a ajuda de um cavaleiro veterano (como Shun de Andrômeda) ou por unirem seus golpes para vencer em dupla um único inimigo.

Felizmente, no fim do arco, que também marcou o fim da primeira temporada de episódios, os protagonistas finalmente puderam ganhar a honra de serem chamados de Cavaleiros de Atena.


Éden de Órion era pretendido a se casar com Ária e se

tornar o deus do novo mundo criado por Marte!

Enfrentando Marte aos pés da Torre de Babel, os elementos coletados nas Ruínas Antigas geram uma espécie de báculo para Ária. A confiança de Ária em assumir a linha de frente da batalha que parecia estar perdida para Kouga, Souma, Yuna, Ryuhou e Haruto começa a ganhar vida e os cavaleiros de bronze passam a ter uma postura de herói num texto muito mais próximo ao de Masami Kurumada.

E para finalizar com chave de ouro, a surpreendente morte de Ária pelas mãos de Marte, que diz ter conseguido o que queria ao pegar o báculo da garota, finalmente pode refletir o que é Os Cavaleiros do Zodíaco para a nova geração de fãs: uma série extremamente criativa visualmente, mas também cheia de razão de ser, pois não está atrelada a propósitos vazios, mas nos sentimentos que movem o ser humano a sempre seguir em frente, independente das quedas sofridas.

O arco como um todo foi uma chance que os roteiristas tiveram ao, somar tudo o que aconteceu com os personagens, amadurecer a personalidade de cada um deles e prepará-los para possíveis novos combates que exijam muito mais deles como personagens para conseguir sustentar a série. Mais que isso, foi uma oportunidade dos próprios roteiristas amadurecerem seu conceito sobre o universo de Os Cavaleiros do Zodíaco para continuar com uma história tão épica quanto foi a de Saori, Ikki, Shun, Hyoga, Shiryu e Seiya.


Uma cena clássica dentro de Ômega: Ária e os cavaleiros de bronze!

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