Davi Junior
RESENHA: Hunter x Hunter - Greed Island

Jogos de vídeo-game sempre deslumbraram garotos de todas as idades, seja pelo fascínio dos mundos novos que apresentam a cada novo desafio, seja pela competitividade que estimulam a cada puzzle em busca da grande recompensa do final do jogo. Enquanto jogavam o Greed Island, a história de Hunter x Hunter experimentou fases inéditas para os personagens e para os fãs.
GON x GING
Se em Yu Yu Hakushô o autor Yoshihiro Togashi criou uma série de eventos que deram origem a uma história com uma premissa de início, mas sem expectativa para um fim, Hunter x Hunter fez exatamente o contrário: durante o Exame Hunter, Gon Freecs iniciou sua aventura com uma previsão de conclusão de sua jornada: encontrar seu pai.
Mesmo sendo o resgate de Killua na Mansão Zaoldyeck um pequeno desvio do plot inicial, as batalhas na Torre Celestial para que os garotos pudessem juntar dinheiro para participar do Leilão de YorkShin levavam desde o início ao mesmo fim do início da história: encontrar o Greed Island, a única pista deixada por Ging Freecs para seu filho.
O Greed Island é um jogo do JoyStation (sem referências ao mundo real =P) que Ging criou em sua juventude, quando havia acabado de se tornar um Hunter junto de 10 amigos. Ao tomar ciência disto, Gon decidiu que iria participar do game pois certamente isto o aproximaria do pai.

Todo esse caminho que Togashi criou em cima desta saga possibilitou que o protagonista se desenvolvesse física e intelectualmente e ainda que encontrasse personagens que acrescentariam diversas características ao universo de Hunter x Hunter, tornando-o ainda mais fascinante a medida que as sagas vão passando. Porém, quebra de expectativa é uma das maiores características dos mangás do autor…
VILÃO X BOMBER
Logo ao chegar na ilha onde se passa o jogo, Gon recebe um recado de seu pai, dizendo que o garoto deve se divertir com o jogo, mas que não crie esperanças de encontrar algo sobre ele, pois ele estaria bem longe dali.
Tal modificação da perspectiva da história, por si só, já abriria mil possibilidades de continuação pós-Greed Island, porém, inicialmente, o desafio do autor era criar uma saga que atendesse as expectativas dos fãs cultivadas há duas sagas anteriores.
Para tal, o primeiro passo foi criar algo inédito na história: um vilão. Parece estranho ouvir que em mais de 10 encadernados Hunter x Hunter não tivesse sequer um vilão, mas pare e pense: o Exame Hunter apresentou rivais, e não vilões. Na Mansão Zoldyck, os pais de Killua podiam ser assassinos com um sistema de segurança absurdo, mas suas intenções nunca foi matar ninguém. Na Torre Celestial, Hisoka funcionou mais como um desafio que como um inimigo. E por fim, a Aranha (Genei Ryodan, Trupe Fantasma), por mais cruel que fossem, são o resultado de uma cidade corrupta financiada por mafiosos e não a sua causa.

Assim, surgiu Bomber, um Hunter maníaco por bombas que não mede pudores para conseguir finalizar o jogo. De personalidade fugaz e alucinada, o vilão age como um chefão oculto do jogo, fazendo o que bem entende graças a sua alta capacidade de controlar o Nem. Apesar disto, a sua forma maniqueísta é chocada diretamente com a mente simples de Gon o que faz do seu combate final contra o garoto um dos maiores destaques da série, um combate com alucinante quanto o próprio Bomber.
BISCOITO X ARANHA
Consequência direta da saga de YorkShin, muitos pontos anteriores ainda são abordados dentro do JoyStation, sendo a principal delas o financiamento dos jogadores por meio de um mafioso, o sr. Battera. Quem vencer o jogo e trazer para eles a carta Sopro do Arcanjo, ganhará a recompensa de 50 bilhões como prêmio.
É por estar interessada nesse dinheiro para comprar jóias que Gon e Killua conhecem Bisky, uma Hunter louca por pedras preciosas e as maravilhas de seu brilho.
Apesar de sua aparência meiga de Sailor Moon (com direito a chuquinhas, saia e luvas), Bisky é uma das maiores mestras do Nem no universo de Hunter x Hunter, se tornando a mola propulsora ideal para as habilidades dos dois amigos, que passam por um rigoroso treinamento para conseguir se igualar aos mais habilidosos competidores do Greed Island.

Além disso, do outro lado da ilha, é a vez dos membros da Aranha, incluindo Hisoka, procurarem dentro do game uma maneira de recuperar os poderes de Kuroro Lúcifer, o que faz com que fãs do grupo não abandonem a saga, além de manter alguns conceitos anteriores presentes na história até que elas voltassem aos principais holofotes.
PRÊMIO X FIM
Pela primeira vez, uma saga de Hunter x Hunter teve um fim. Diferente dos fins pela metade ou das buscas concluídas sem findar completamente a premissa da saga, Togashi decidiu por um ponto final no Greed Island apenas quando todas as suas pontas foram amarradas.
O resultado foi uma saga muito bem estruturada, com o poder de atrair novos leitores mesmo que partissem do meio do mangá ou do anime, além de otimizar diversas características shonen que por vezes o autor provocou neles, mas nunca entregou aos fãs.
Belas batalhas, personagens bem trabalhados, inimigos bem conceituados e um final com um gancho perfeito para a continuação da história. O Greed Island, mesmo sem Kurapika e Leório, foi a saga mais artisticamente construída em Hunter x Hunter, menos empolgante que YorkShin, mas mesmo assim, um admirável feito do autor.
