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  • Foto do escritorDavi Junior

RESENHA: Hunter x Hunter - O Exame Hunter



Histórias são contadas ao montes, das mais variadas maneiras e com os mais diversificados recursos. Todos os anos o cinema, a tv, a literatura e tantos outros campos de mídia criam toneladas de horas de entretenimento que entra para a cultura e para a vida das pessoas que chegam até elas. Porém, apenas as histórias com grandes mensagens, lições e conteúdos próximos ao seu receptor é que sobrevivem ao tempo e conquistam gerações e gerações de pessoas. Hunter x Hunter vai além seguindo o caminho reverso: provocante e contestador, sua mensagem não é passada através de sua história, mas sim por seu próprio leitor.


UM AUTOR X MUITOS PERSONAGENS


Muitos jovens e adultos talentosos sonham em se tornar autores de sucesso com suas mais mirabolantes idéias e complexas relações de personagens e enredo. Porém, nem sempre insights geniais se convertem no resultado final almejado, isto porque muitos dos autores iniciantes esquecem de algo que Yoshihiro Togashi conhece tão bem: a aceitação da história é sempre tão grande quanto a sua simplicidade.


Parece fácil pensar deste jeito quando se é um autor consagrado. Togashi é o autor do célebre mangá Yu Yu Hakushô, um dos maiores destaques dos anos 90, época em que o BOOM da animação dos anos 80 começava a esfriar no Japão, e mesmo que se espalhando pelo mundo, poucas obras originais conseguiam se sustentar por longos anos.


O autor também tem outra fonte de criatividade ao seu lado, pois o sortudo ainda é casado com a superstar do mangá shoujo (do japonês, para meninas), a autora de Sailor Moon, Naoko Takeuchi. Com alguém tão especialista quanto ele para alavancar vendas de editoras, como um mangá seu poderia dar errado?


Pois é aí que se torna tudo tão simples. Para quem já leu a história de Gon e seus amigos sabe o quanto o mangá se desdobra em sequências fenomenais e de tirar o fôlego, mas tudo isso saiu de um desejo que o autor tinha a anos: colecionar personagens.

Hunter x Hunter tem personagens que cativam a cada segundo!

Do mesmo jeito que gosta de colecionar bonecos, um dos maiores hobbies do autor Yoshihiro Togashi é o de desenhar personagens novos. Isso pode até ser previsto em Yu Yu Hakushô, visto a quantidade de personagens que aparecem ao longo da história, mas em Hunter x Hunter, o autor criou um ambiente propício para dar asas a sua imaginação e inserir personagens atrás personagens em todos os momentos da história.


Hunter x Hunter é o típico mangá que nasceu para fazer sucesso, com a união do autor certo no momento certo, o mangá de 1999 foi um dos principais precursores do estilo que permeou e influenciou praticamente todos os autores do estilo shonen ao longo dos anos 2000 e que ainda hoje se prova como o alicerce do sucesso de vendas deste tipo de publicação.


Esta resenha contemplará os aspectos iniciais da obra, conhecida como a saga do Exame Hunter, que contempla a saída do protagonista da Ilha da Baleia até o fim do exame que dá nome ao arco, bem como toda a magia e o ambiente criado pelo autor para dar vida a história.


PROTAGONISTAS X PASSADOS


Perfeito. Com a vontade e a inspiração necessária em dia e o cartão verde para iniciar sua história na Shonen Jump, a revista mangá de maior tiragem e circulação do Japão, só falta Togashi criar o alicerce de Hunter x Hunter, os protagonistas que vão guiar capítulo a capítulo toda a jornada do autor para colecionar personagens.


E o resultado não poderia ter sido mais perfeito. Seguindo parte da teoria humoral (veja mais na resenha de Naruto, a Saga da Ponte clicando aqui) e parte das personalidades dos quatro personagens que lhe fizeram chegar a nata do Japão em Yu Yu Hakushô, Togashi deu origem a Gon, Killua, Kurapika e Leório.


Gon é a personificação da bondade e inocência

Gon Freecs pode ser considerado um dos melhores modelos da tendência de protagonistas dos anos 2.000 em mangás shonen. Inocente, sonhador e determinado, o garoto sonha em encontrar o pai, um famoso Hunter que o abandonou na Ilha da Baleia para seguir com sua carreira, e para tal, ele decide prestar o Exame Hunter para que, como Hunter, possa cumprir seu desejo.


Se otimismo é a palavra que melhor pode definir Gon, Killua é seu completo oposto. Sem uma razão para viver e filho mais novo de uma milionária família de assassinos de aluguel, o garoto vive pressionado buscando no Exame Hunter algo que o interesse e descobre na amizade simples e sincera de Gon, algo que possa valer a pena.


E não é apenas o filho da família Zaoldyeck que vive cheio de conflitos internos. Único sobrevivente de um clã que possui olhos vermelhos, Kurapika quer se tornar um Hunter para ganhar poder o suficiente para se vingar do Genei Ryodan, o grupo da Aranha de 12 patas, os responsáveis pela ruína de seu povo (nota: não confundir com Sasuke Uchiha, Hunter x Hunter começou a ser escrito um ano antes de Naruto).


Fechando o grupo com chave de ouro, entra Leório. Provavelmente o personagem de terno e gravata seja o mais próximo de Gon se pensarmos em sua maneira simples de ver as coisas, porém seus atos impulsivos e agressivos sempre o colocam a mercê do inimigo como alvo mais frágil. Apesar de seu estilo debochado, este guarda um grande segredo, quer se tornar Hunter para conseguir o direito de cursar uma faculdade de medicina gratuitamente e assim, como médico, poder salvar vidas tão preciosas como era a de seu irmão que morreu doente.

Leório parece carrancudo e grosseiro, mas tem o altruísmo como filosofia de vida

Se o perfil dos protagonistas parece já estar traçado desde Yu Yu Hakushô, notem que tanto a personalidade como as cores das vestimentas se assemelham muito as de Yusuke e cia, o contexto a qual eles se inseriram as situações que Togashi colocou os personagens vai muito além do limiar humano e conforme mais a coleção de personagens vai se estendendo, mas interessante a história vai ficando.


PROVOCANTES X INUSITADOS


Um dos grandes destaques da história é a facilidade que ela tem de puxar o leitor para dentro da história. As questões por qual os personagens vão passando antes de chegar e após iniciar o Exame Hunter facilmente fogem das disputas convencionais dos mangás shonen, sendo muito mais ideológicas e muito menos sangrentas.


E o mais interessante é observar como cada um dos quatro protagonistas, e volta e meia um ou outro coadjuvante, pensam a respeito dos desafios aos quais são impostos, revelando traços de sua personalidade e caráter.


Vale destacar o terceiro exame por quais eles passam quando, aliados a Tompa, os personagens precisam vencer os desafios da Torre dos Enganos. Enquanto Killua sempre acaba sendo levado pela decisão mais pessimista e Kurapika sempre entra em dualidade de opinião com sua maneira analítica e racional de pensar, Leório sempre é levado por seus instintos e Gon sempre surpreende com sua maneira simples de pensar.


Toda vez que alguém é submetido a um teste, sempre fica preso as regras que o permeiam, mas muitas vezes afloram no participantes pré-conceitos que os privam de tomar alguma decisão fora do escopo geral da idéia de um teste. Por viver isolado na Ilha da Baleia por muito tempo, Gon é um ser livre de pré-julgamentos e por isso sempre leva ao pé da letra tudo o que lhe é dito, facilitando suas ações.

A personalidade calma e racional de Kurapika guarda segredos inesperados e sombrios!

Na Torre dos Enganos ninguém lhe disse que numa prova onde se aposta qual vela vai apagar primeiro estava implícito a regra de assoprar a vela, assim ele vai lá e faz. Ao se depararem com duas portas que separariam o grupo, nada mais natural que abrir um buraco na parede e ambos os grupos se unirem novamente.


Parece irrelevante, mas cada ação simples de Gon leva o leitor a indagar “como eu não pensei nisso antes?”. Fazendo da obra algo inesperado a cada novo capítulo e provocante a medida que nunca se consegue prever o próximo passo que o autor vai dar e a ponto do caráter de cada personagem será usado para a resolução da tarefa explícita e implícita em cada prova do exame.


Se o começo já parece fora do comum e o seu desenvolvimento surpreende o leitor, o que dizer do final de saga mais inusitado que um autor já produziu? No fim do exame, o presidente da Associação Hunter, Netero, propõe um campeonato ao contrário: avança nas chaves aquele que perder e se tornará Hunter aquele que vencer apenas uma disputa.


Assim como toda a história, o destaque das lutas acabaram não sendo os combates, mas sim o desenvolvimento de maneiras de se resolver o resultado da luta e as consequências que isso infligiram. Após a luta de Gon, onde este se recusou a desistir da luta (pois não tinha chances de vencê-la) até que Hanzo, seu oponente parasse de torturá-lo para decidirem a vitória de outra maneira.

Filho de uma família de assassinos, Killua parece um corpo vazio de sentimentos até encontrar Gon

A história ainda quebra o linear do tempo e avança para o fim do torneio, quando o protagonista fica sabendo de todos os outros resultados após acordar de um desmaio após o fim de sua luta. Envolvente e cativante, o todo o resto do torneio colocou todos os sentimentos dos participantes a flor da pele, revelando desde o lado humano de Leório, criar suspense com os segredos de Killua e revelar a inveja escondida de Killua por Gon…


ANIME X ANIME


Hunter x Hunter começou a ser desenhado em 1998 e poucos anos depois já foi para a TV em uma produção feita pelo estúdio Nippon Animation. Com a oscilação de Yoshihiro Togashi para dar prosseguimento a saga, a animação teve de ser parada por diversos momentos até ser cancelada definitivamente e os fãs pareciam nunca mais poder ver a conclusão animada.


Com o retorno da história na Shonen Jump em 2011 e o sucesso instantâneo que isso gerou, o estúdio MadHouse, o mesmo de Death Note (leia a resenha aqui) e alguns curtas de Batman, the Gothan Knghit (leia a resenha aqui) foi além do que os fãs imaginaram e iniciou uma nova animação contando a história desde o início novamente.


Com um traço mais leve e dinâmico que a primeira produção, o estúdio MadHouse caprichou em Hunter x Hunter e fez jus a sua alcunha de melhor estúdio japonês de animação da atualidade. Apesar de sutil, a diferença no traço dos personagens foi muito benéfica, o que faz do anime algo muito atual mesmo após dez anos de existência.


Netero desafia Gon no dirigível até o local do terceiro teste e lá Gon mostra que força bruta não é o fator principal de um Hunter

Apesar de ser mais fiel ao mangá que a produção do Nippon Animation, algumas cenas foram cortadas do original, e focos diferentes em diálogos serviram para melhor ajustar a relação dos personagens a algo mais contínuo e simétrico a toda a obra.


Assistindo ao primeiro anime e mesmo ao ler mangá, a impressão que se tem é que o trio principal da história é formado por Gon, Leório e Kurapika, tendo Killua como uma espécie de protagonista rebelde adjacente a maioria dos acontecimentos, a mesma impressão que se tem com Ikki de Fênix em Cavaleiros do Zodíaco ou com Hiei em Yu Yu Hakushô.


Porém, após algumas sagas, fica clara a dominância da amizade de Gon e Killua como guias da série. Assim, Os focos, closes e conversas, apesar de ainda fiel ao mangá, deixaram a percepção do espectador muito mais atenta a grande amizade que se desenvolvia entre Gon e Killua e como Leório e Kurapika, apesar de fundamentais, são uma espécie de lado B no desenvolvimento da história.


HUNTER X MUNDO


Yoshihiro Togashi criou uma série no tom certo, contada da maneira certa, numa época que o mundo dos mangás shonen precisavam de uma simplificação para seguir adiante. Todas as obras que seguiram com sucesso pelos anos 2000 precisam agradecer a Hunter x Hunter e principalmente a sua saga inicial.


Despretensiosa, porém cheia de conteúdo e razão de ser, o Exame Hunter refletiu tudo o que uma série precisa para começar, relacionar o desenvolvimento e buscar um fim sem que todo o decorrer da história seja previsível ao leitor.


Já faz quase uma década e meia que Hunter x Hunter começou e em breve, o autor já confirmou, teremos os últimos capítulos da história. Mas com a força e a inspiração que Gon e seus amigos provocam ao leitor e a todos os mangaká iniciantes do Japão e do mundo, é certo que sua história não se privará a décadas, mas durará para sempre.



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