Davi Junior
RESENHA: Hunter x Hunter - O Leilão de Yorkshin

Vingança. Um sentimento mais corrosivo que o ácido e mais destrutivo que fogo, mas que se torna irrefutável a medida que o seu portador continua a recordar e a se angustiar com lembranças que o tornaram na pessoa que é. Em Hunter x Hunter, durante o Leilão de Yorkshin, os personagens puderam estar lado-a-lado com o sentimento de vingança e frente-a-frente com cada uma de suas tentativas de superá-la.
OLHOS ESCARLATES
Desde o início de Hunter x Hunter, os leitores tem se intrigado pela grande diferença que há entre os seus quatro protagonistas e a maneira como eles se enlaçam nas mais diversas sagas e aventuras. Se Gon é um personagem que cativa por sua simples compreensão de enxergar o mundo a sua volta, o seu oposto é Kurapika, que vê a complexidade até nos aspectos mais comuns do ambiente.
Impossível não adorar as suas explicações longas e as suas deduções profundas acerca das questões colocadas aos personagens ao longo de sua jornada. Mas ainda mais cativante é a história por trás do personagem: um mix de horror e tragédia, que culmina na formação de um personagem vingativo, mas ainda ainda assim puro de coração.
Descendente do clã Kuruta, Kurapika foi o último descendente de seu povo, caracterizados por mudar a cor de seus olhos para um tom avermelhados quando colocados sob forte pressão. Após mortos, estes olhos dos cadáveres começaram a ser vendidos à altos pressos no mercado negro por colecionadores cobiçosos da beleza de tais olhos.

Para recuperar a honra de seu clã, o jovem de cabelos loiros deseja recuperar todos os olhos de seus antepassados e se vingar dos bandidos que cruelmente invadiram o sue vilarejo e matou todos os seus familiares, para tal, após o Exame Hunter (leia a resenha aqui), Kurapika se tornou um Hunter guarda-costas de Neon, filha de Light Nostrade, que se aproveita da habilidade da filha em prever o futuro para enriquecer no mercado negro.
Todo este cenário criado em torno de Kurapika é contado em vários capítulos do mangá e do anime, deixando Gon e Killua fora da história por um tempo, e mesmo após o reencontro do quarteto inicial, ambos e Leório assumem um papel de apoio, fazendo do descendente do clã Kurata livre para conquistar sua vingança contra aqueles que exterminaram seu povo: os temidos membros de um grupo conhecido como A Aranha, que pretendem roubar os olhos escarlates (e todos os demais itens) no grande leilão anual que acontece em Yorkshin!
A ARANHA
Que a intenção por trás da criação de Hunter x Hunter parte de um desejo do autor Yoshihiro Togashi de criar uma “coleção” de personagens, todo mundo já sabe. Mas o que há de melhor nessa ambição do autor, é que ele consegue mesclar seus infindáveis personagens criados com um enredo de primeira, que vai crescendo a medida que a história avança.

O arco do Leilão em Yorkshin, não só é o mais bem estruturado, como o mais emocionante e o que mais justifica o nome Hunter x Hunter da história. Disposto a capturar todos os 13 membros da Aranha (Genei Ryodan, no original), formadas por 12 patas e uma “cabeça” líder, uma caçada no sentido mais literal possível começa na cidade de Yorkshin, mesclando um combate funesto entre a habilidade de dedução de Kurapika contra a inventividade dos membros da Aranha para roubar os itens do leilão.
Interessante observar como o personagem Hisoka é sempre muito bem explorado em cada uma das sagas. Enquanto no Exame Hunter ele era enigmático e na Torre Celestial (leia a resenha aqui) era o grande rival a ser alcançado por Gon, durante o arco do Leilão de Yorshin, o excêntrico palhaço é o agente duplo de Kurapika, fornecendo informações sobre a Aranha, sendo o membro de nº4 da trupe.
Mesmo vilões frios e calculistas, todos os outros membros do Genei Ryodan conseguem, como Hisoka, logo conquistar a simpatia do público, seja com o jeito simples de Ubogin, com o jeito kawaii de Kotorpi, com a provocação de Pakunoda ou com a inteligência de Shalnark, todos ganharam uma popularidade avassaladora, efeito muito próximo do que ocorreu com os 12 Cavaleiros de Ouro em Os Cavaleiros do Zodíaco ou o Gotei 13 em Bleach.
Kuroro, o líder da Aranha, é um show a parte. Se todos ficaram curiosos com o poder da família de Killua no arco em que este precisa ser resgatado por Gon e cia (leia a resenha aqui), foi durante a luta contra Kuroro, Silva Zaoldyeck, o pai de Killua, e Zeno Zaoldyeck, o avô de Killua, que ambos conseguiram mostrar do que são capazes, além de poder mostrar a ideologia de um assassino de aluguel. Além disso, mesmo enfrentando dois ao mesmo tempo, Kuroro mostra o poder que a Aranha tem como membro líder, se igualando ao poder dos dois mais célebres e poderosos assassinos de todo o universo de Hunter x Hunter.

Tão frenético e cruel, é a primeira captura de Kurapika, o grandalhão Ubogin. A luta é cruel. Mesmo Ubogin sendo mal, fica a dúvida se Kurapika deveria tortura-lo após captura-lo. O drama psicológico é intenso, fazendo Kurapika se colocar no lugar da aranha quando eles matam inocentes, invertendo os papéis de mocinho e vilão.
O LEILÃO
Toda a ambientação do arco é criativa ao extremo. Colocando um leilão como centro do enredo, o autor pôde explorar tanto o lado próximo que o leitor possa vir a ter com o tipo de evento, quanto seu lado glamouroso, cheio de quinquilharias e mistérios provocados pelo cinema em todos os filmes que se utilizam do tema.
E por falar em Hollywood, o que não dizer da analogia de Yorkshin com Nova York! Com todas as características básicas da capital do mundo, o autor contrastou seu universo até então cheio de florestas e monstros para prédios, concretos e vilões do mundo real, entre assassinos, sequestradores e mafiosos.
Mas não apenas de ambientação se segura um enredo. Aliando a caça frenética de Kurapika pela Aranha, Yoshihiro Togashi ainda adicionou um elemento que aguça a curiosidade e estimula o leitor a querer cada vez mais avançar na história. Trata-se das previsões feitas por Neon Nostrade. Interessada pelos poderes da menina, Kuroro sequestra a garota e copia o poder dela graças ao seu Nem de característica especial, fazendo previsões de toda a Aranha, incluindo Hisoka.

Instigado a descobrir se as profecias que nunca erraram da menina se cumpririam, o leitor e o espectador se deparam com uma verdadeira obra de arte, com direito a uma macabra orquestra de explosões provocada por Kuroro, combates que parecem acabar com a vida de personagens queridos e intrincados sub-enredos que se unem em um colossal final a bordo de um balão usado por Kurapika, após uma das trocas de reféns mais fabulosas que o mundo das animações japonesas já teve.
ACORRENTANDO-SE
Que Yoshihiro Togashi é um autor cheio de surpresas a todo momento, isso todo mundo já sabe. Obras como Yu Yu Hakushô (leia as resenhas aqui e aqui) e Level E (leia a resenha aqui), não só demonstram a inventividade do autor como se tornaram verdadeiros clássicos instantâneos de mangá shonen. Mas Hunter x Hunter vai além!
Observando os três arcos anteriores, é nítido que o autor sempre acaba deixando o final de cada um dos arcos em aberto, com várias pontas para serem resolvidas ao longo de futuras tramas. Durante o leilão em Yorkshin não é diferente, e o clímax de um verdadeiro thriller policial acaba “pausando” ao Kurapika compreender o risco que seus amigos correm ao ajudá-lo e ao conseguir neutralizar a Aranha.
A vitória do fim da saga é Kurapika mostrar-se diferente das aranhas, sendo mis humano e misericordioso, oferecendo uma condição com a corrente do julgamento, para que ele se arrependa e viva.

Apesar de o objetivo de Kurapika não ser cumprido, o personagem se dá por satisfeito com o resultado que obtém, e o autor da história pode iniciar mais um arco de grandes novidades, deixando as marcas do arco mais emocionante da série caracterizarem para sempre como o fã viu e quer o ritmo e a audácia de Hunter x Hunter, um ode de como se fazer uma história!