Davi Junior
RESENHA: Kid Icarus Uprising (3DS)

Desde a Antiguidade, ou mesmo antes disso, humanos sempre criaram mitos para explicar e justificar aquilo que não conheciam. Mas muitas vezes esses mitos acabam se voltando contra o criador para que este possa continuar motivado. Em Kid Icarus Uprising, um anjo fica entre uma guerra entre deuses para mostrar o quanto valorosos são os humanos.
Já fazia um tempo que a Nintendo não produzia um game que agradasse a base instalada de seus consoles ao mesmo tempo que atraísse novos jogadores para seus títulos. Se público casual pôde contar com diversos jogos de Mario para Wii U e 3DS em 2012, The Legend of Zelda Skyward Sword foi o último título que a Big N ofereceu ao público hardcore, que sem necessidade de retaliação, voltaram seus olhos para os concorrentes da empresa.
Felizmente o estúdio Sora Project acabou com a greve de produções hardcore da Nintendo e lançou em 2012 um jogo que agradou tanto gregos quanto troianos: Kid Icarus Uprising (ou Shin Hikari Shinwa: Parutena no Kagami, no Japão). Dirigido pelo aclamado diretor Masahiro Sakurai, conhecido por seus trabalhos em Kirby e Super Smash Bros., o jogo foi um verdadeiro presente não só para os detentores de um Nintendo 3DS como para a indústria de games em geral.
Na geladeira da Nintendo por mais de 20 anos, a franquia Kid Icarus teve seu último jogo lançado para Game Boy em 1991, uma aventura que acontece pouco depois que a trama original do primeiro jogo para NES de 1986.

Ambientado em uma mitologia grega paralela aos contos históricos originais, o anjinho Pit é o melhor guerreiro do exército de Icarus (ou Centuriões) da deusa da luz Palutena (uma mistura do nome Pallas Atena, a deusa grega da sabedoria) que sempre entra em ação quando as forças do mal tentam se apoderar da humanidade.
Terceiro título das aventuras de Pit, Kid Icarus Uprising se passa 25 anos após a aventura original, quando a malvada vilã do primeiro jogo, Medusa, a deusa da escuridão renasce e começa novamente a atacar a Terra. Dividido em dois grandes arcos e diversos sub-aventuras dentro dos 25 capítulos da trama, o exército da deusa Palutena ainda tem que enfrentar o terrível deus dos mortos Hades, além da deusa dos seres vivos Viridi.
Mas descrever vilões e tramas é pouco para mostrar a qualidade do título, cheio de grandes reviravoltas que fazem da trama a mais agitada de todas as histórias dos títulos da Nintendo. Sem obedecer regras e fazendo diversas menções aos jogos anteriores (o que aguça a vontade de experimentar a jogatina em 8 bits dos títulos originais), o ritmo alucinante cria uma experiência de jogo fascinante, combinando vários gêneros gaminísticos.

Os capítulos são (quase) sempre divididos em 3 partes: a luta aérea, pertencente ao gênero de tiro, a aventura em plataforma 3D e a luta final contra o chefão. Essa sequência ajuda o jogador hard-core tanto a calcular seu tempo de jogo sem extrapolar seus limites, quanto não enjoa os jogadores casuais que podem se divertir com várias coisas ao mesmo tempo. Essa combinação foi a saída ideal para um gênero que a Nintendo carecia em seus títulos, já que a alta diversidade de gêneros de tiro não totalmente completa pelos títulos da franquia Metroid Prime.
Tão diferente quanto os gêneros entre si, é a nova jogabilidade proposta no Nintendo 3DS, uma combinação nada comum dos botões laterais com a caneta stylus, que serve como uma espécie de cursor de mouse para a mira das flechas de Pit. Há também a opção de se usar o Circle Pad Pro (indicados principalmente para canhotos) para trocar a stylus pelo segundo analógico com acessório MegaZord do portátil.
O cartucho é até acompanhado com um apoio que mantém o 3DS em pé sem a necessidade do jogador ficar segurado o portátil com apenas uma mão o tempo todo, se optar pela jogabilidade da Stylus. Por um momento, pode até parecer desagradável, mas a partir do momento que se encontra uma posição confortável para se jogar.

Dando um show a parte, o cenário criado consegue superar até mesmo os belíssimos detalhes de Resident Evil Revelations, já que a riqueza de elementos em um cenário baseado em fantasia é muito mais extensa que num jogo com cenários reais, se tornando um espetáculo a parte quando jogado com o recurso 3D do 3DS. A trilha sonora lembra muito as trilhas rock’n roll de Mega Man X mesclado com os temas medievais de The Legend of Zelda.
Kid Icarus Uprising é a inovação perfeita para os novos tempos de um game com raízes nos consoles dos anos 80. É tudo o que a franquia Mega Man poderia se tornar, que Final Fight ou Street o Rages nunca tentou fazer ou o que Sonic tentou inovar e não conseguiu.
Se os cansativos videos do jogos hard-core cansam aqueles acostumados com plug-and-play, não há quem não aprove o fato do game mesclar o desenvolvimento da história ao mesmo tempo em que o jogador já está lutando contra os monstros dos diversos exércitos dos deuses mesquinhos e cruéis que desafiam Palutena.
Os diálogos entre os personagens além de ampliar o universo além do que se vê na tela, ainda colabora para grandes risadas entre uma flechada e outra, já que o jogo contém, como poucos, personagens muito carismáticos e cativantes, que certamente estarão presentes nas próximas edições de Super Smash Bros.

Com um final revolucionário digno de uma produção de Hollywood, Pit desenvolve, em um texto reflexivo junto de Palutena e Veridi o porquê toda as guerras do game. Além disso, a mensagem final da importância do ser humano para as divindade presentes no jogo ainda completa o jogo totalmente, fazendo do enredo um dos mais completos de toda a história dos video-games!
Um misto de uma jogabilidade excepcional com um enredo da mais alta qualidade, Kid Icarus Uprising se tornou um clássico automático da Nintendo e uma contribuição imensurável para o universo dos games, pois como nenhum outro conseguiu unir em um único jogo, elementos que se combinam em uma experiência única e desejosa de jogar rejogar cada vez mais.